Feira do Largo da Ordem


No século XVIII, quando o ouro deixou de ser a grande riqueza que se buscava no Paraná, os faiscadores paulistas emigraram para Minas Gerais e Cuiabá, deixando Paranaguá e os campos de Curitiba como única base geográfica para uma mesma comunidade. Nesta ocasião já chamada de comunidade paranaense. Na verdade os campos de Curitiba eram um complemento da sociedade litorânea. Em 1653 o Provedor indicava: "de Paranaguá, com três dias de caminho pelo sertão, se dá nos campos que chamam de Curitiba, que são mui férteis, e em que há já gado de alguns moradores de Paranaguá".

Considerada como comunidade secundária, pois seus primeiros moradores eram oriundos de Paranaguá, não demorou muito para que Curitiba se tornasse o centro da comunidade dos paranaenses. Foi elevada a vila (1693), por sentirem seus moradores a necessidade da implantação da ordem civil. Constituída por autoridades municipais - as 'justiças" - a vila passou a ter o aspecto igual às outras fundadas pelo colonialismo português. Logo começou a troca comercial entre as duas vilas. De Curitiba mandava-se para Paranaguá gado vacum e cavalar, trigo e erva-mate. De Paranaguá os curitibanos recebiam, "peças de pano de algodão, barris de vinho, aguardente do Reino ou da terra, vinagre, azeite e sal".

Foi em 29 de março de 1693, que a povoação de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, a pedido dos seus moradores, feito ao Capitão-Povoador Mateus Martins Leme, que foi deferido o pedido para elevação a condição de vila. Pela Lei Provincial de São Paulo de n0 5, em 5 de fevereiro de 1842, ascendeu a condição de Cidade com o nome de Curitiba e pela Lei Provincial de n0 1, de 26 de julho de 1854, Curitiba foi considerada Capital do recém-criado Estado do Paraná.

Deixando um pouco de lado nomes e datas, que os livros da história do Paraná contam, Curitiba tem seu outro lado histórico que faz parte das tradições que são contadas pelo seu povo, refletindo sua real história.

Há muito tempo não vemos os meninos e até meninas, jogando bolinha de vidro nas praças, ou qualquer terreno baldio. Sempre tendo alguém por perto para praticar a famosa "reculuta", termo usado para se roubar bolinhas dos outros.

Onde estão os "piás" que jogavam "tique"? Uma espécie de jogo praticado com uma arruela de metal jogada contra um muro ou parede. Aquele que conseguisse se aproximar em um palmo da arruela que seu antecessor jogasse, ganhava o jogo.

Onde foram parar as balas Zequinha, Pastilhas Zoológicas e as Balas Brasil? As Zequinha todos sabem, era a tradicional figura desenhada pelo grande Chichorro, em suas variadas profissões.

As Zoológicas, como o nome diz, as (este modesto escriba) em um restaurante figurinhas representavam animais e a Brasil, era um quebra cabeças, para se montar através das figurinhas o mapa do Brasil. E como era divertido disputa-las no jogo de "bafo".

E as "raias"? Para quem não lembra, era o nome dado para as pipas ou papagaios, nomes estes trazidos pelos forasteiros que aqui chegaram. Alguém ainda lembra da "raia bidê"?

Quanta maldade praticada com as "cetras", para a caça de pequenos pássaros. Tinham que ser confeccionadas com uma boa "forquilha" e o elástico mais disputado era o "Michelin". Também para quem não sabe a "cetra" mudou para estilingue ou atiradeira.

Com justa razão hoje proibido, os balões eram contados um a um nas épocas de junho e julho. E os seus formatos! Travesseiro, caixa, charuto e até navio. Na escola as verdades "ingênuas". "Ontem há noite contei 239 balões".

E os nossos bares que tinham fama em todo o Brasil?

O Stuart é um dos poucos que se mantém incólume. O Buraco do Tatu onde se comia a melhor "Carne de Onça", acompanhada de um excelente chope. O Americano foi ponto de autoridades, políticos e estudantes. A Cometa era digna dos melhores elogios e o Guairacá imbatível. Bares de uma época em que o bar não era só para se beber e sim, o local para traçar-se os destinos políticos do estado, encontro de intelectuais e certamente alguns "pinguços", no bom sentido. Qual o estudante que não teve passagem pelo Mignon ou Triângulo? Para saborear um "cachorro "quente" ou um "pernil com verde e mostarda preta", certamente acompanhado de um chope.

E os restaurantes!

Como era bom almoçar no Restaurante Paraná, até o seu "Filé Paraná" há bem pouco tempo saboreei em um restaurante em São Paulo. O Schwarze Katz a melhor cozinha alemã do Brasil. "Seu" Erwin e a "dona" Tecla. devem estar servindo seus eishein, kasseler e ebucrute, aos convivas onde quer que se encontrem. As churrascarias Bambu e Tupã, que tinham como seu homem de marketing (naquele tempo era propagandista) Sacarrolha, um espanhol com o coração do tamanho de um trem, gritando pelas ruas: "Atençon, Churrascaria Bambu" e assim fazia as churrascarias lotarem. Em termos de churrascarias fazem parte da história a do Clube Caça e Pesca, que resiste até hoje em sua maneira de servir e a inesquecível Churrascaria Recanto Cruzeiro (a antiga), que não é a mesma que está no mesmo local. Por mais que queiram caprichar, naquele local só existiu uma Churrascaria Cruzeiro, maldosamente fechada por interesses de poucos e a insatisfação de muitos. E a feijoada do Onha, a princípio na Rua Riachuelo e depois no Atuba. Será que existirá outra igual? Até em Santa Felicidade ainda sente-se à tradição dos italianos, principalmente quando nos referimos ao Restaurante Iguaçu e ao Cascatinha. Gente nossa. Mais recentemente tínhamos o Humel-Humel da saudosa Ing e ainda hoje, mantendo a tradição dos seus ancestrais o Schwarzwald - no Largo da ordem.

Porém, três casas ainda representam com galhardia a história gastronômica de Curitiba: Restaurante Rio Branco, na rua Barão do Rio Branco; Restaurante São Francisco na Rua São Francisco e o Palácio. que só atende a noite, na André de Barros.

Pouca gente ainda sabe quem foram e porque tiveram seus nomes envolvidos com nossos principais clubes de futebol:

Belford Duarte, Joaquim Américo e Dorival de Brito e Silva, respectivamente Coritiba, Atlético e Ferroviário (hoje Paraná Clube). Seus ídolos fizeram nome no Brasil e até internacionalmente. Caju, goleiro da Seleção Brasileira, fanático pelo Atlético. Fedato, "Coxa Branca" um dos maiores zagueiros que o futebol brasileiro conheceu e sem dúvida Isaldo, grande avante do Ferroviário. No automobilismo poucos sabem que o nosso Perereca e o Haroldo Vaz Lobo, disputaram em igualdade de condições com Chico Landy, carioca e Catarino Andreatta, gaúcho, na época os melhores do Brasil.

Para descrever a história que a memória do povo conta, estas linhas são poucas, só um livro seria capaz de refletir tudo e seus detalhes, quem sabe este escriba se proponha a tal.

Dos bondinhos puxados a burros aos da Companhia Força e Luz do Paraná (subsidiária da Light) até aos biarticulados de hoje; do primeiro prefeito José Borges de Macedo até ao atual, Cássio Tanigushi, Curitiba e sua gente, sempre se pautaram pelo equilíbrio, força de trabalho e qualidade de vida. Devemos provavelmente estes predicados, as origens de sua gente, alemães, poloneses, italianos, ucramanos, árabes, judeus, russos e mais recentemente nipônicos. Esta miscigenação é que mantém o equih'brio para uma existência pacifica, ordeira e com os olhos voltados para o futuro.

O aniversário não é só da cidade é de todos nós, que aqui vivemos e graças ao nosso estilo de vida podemos nos considerar moradores de Curitiba, a capital brasileira com estilo de primeiro mundo.

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